sábado, 21 de maio de 2016

Evento em Natal vai discutir empoderamento da mulher negra

II Encontro Pixaim


Neste sábado (21), a partir das 17hs, no Nalva Café Salão, será realizado o II Encontro Pixaim, que é idealizado por um grupo feminino que trabalha pelo empoderamento das mulheres negras na sociedade. 
O Encontro, que é gratuito, vai contar com música ao vivo, intervenções artísticas, exposição de pinturas e uma palestra sobre a necessidade da ocupação de espaços de poder pelas mulheres negras. 
O grupo Pixaim está passando por uma reformulação. O início do grupo estava voltado para uma auto-estima da mulher negra, com foco na estética e na valorização do cabelo crespo. Porém, as mentoras do grupo decidiram dar uma guinada no foco e agora passam a fortalecer a ideia de um grupo com ideais políticos e de empoderamento na sociedade, ainda marcada pelo preconceito com relação ao que diz respeito à mulher negra. 

Programação:

17 hs: Abertura II Pixaim

18:00 hs – Intervenção musical com Nivanio JB

18:30 hs – Intervenção “Mulata tipo exportação” com Flázia Suélida  

19:00 hs – Palestra “Mulher negra e a conquista por espaços de poder”. Palestrante: Shirlene Marques - Jornalista e mestra em Serviço Social. Concluinte do curso de Direito.

19:30 – Intervenção “Como se Pecado fosse apenas ser”, com Silvinha Alves, Ísis de Castro e Rafaela Brito.

20:00 hs – Voz e violão com Sâmela Ramos.


Local do evento: Nalva Café Salão
Endereço: Av. Duque de Caxias, 110 - Ribeira, Natal - RN, 59012-200. Telefone:(84) 3212-1655

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Pintando nossos corpos com nossas cores


Caixa com 12 cores extrapolam o velho "cor da pele"  rosinha


Quando era criança, pegava a minha caixa de lápis de cor e ficava bons minutos para escolher (entre as poucas opções de cor), qual seria aquela que iria colorir a pele dos meus desenhos de infância: me restava o preto, um marrom e um tal "cor de pele".

O pior é que aquela cor "roseada" não era a minha, nem do meu pai, nem do meu avó negro...Mas assim como eu, milhões de crianças no Brasil saíram por aí enchendo corpos de cores rosinha.

"Facibuquiando", descobri o lançamento da caixa de giz de cera com 12 opções de cor de pele. O produto é fruto de um belo trabalho de pesquisa da UNIAFRO - Política de Promoção de Igualdade Racial na Escola, um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Eles perceberam a necessidade de trabalhar a nossa diversidade racial e desconstruir este padrão de "cor de pele" rosinha e sugeriram a empresa Koralle o desenvolvimento do  material grafo-plástico. A caixa de giz, juntamente com um livro,está sendo utilizada por lá.

Quem quiser adquirir a caixinha pode buscar no site:
http://www.koralle.com.br/produto/giz-de-cera-pintkor-12-cores-324954


quarta-feira, 21 de maio de 2014

É papel do Judiciário analisar a validade e existência da religião?

Por Shirlene Marques

Imagens cedidas por Fafá M. Araújo




Uma das bases do Direito para a solução da lide (conflito) é a atitude  de uma “neutralidade” do juiz, para que a mais correta interpretação  da lei seja dada. Primeiro ele deve observar o que diz a nossa  Constituição, os pactos e acordos. Quando me deparei com a  divulgação de que o juiz  Eugênio Rosa de Araújo da 17.ª Vara  Federal do Rio de Janeiro havia posto em sua sentença que o  candomblé e a umbanda não são religiões, fiquei refletindo sobre as bases utilizadas pelo magistrado para tal fundamentação.

Com certeza, não fez uso da legislação, que orienta pelo direito à  diversidade de religiões. Ao contrário, foi buscar desqualificar as  religiões, partindo de pressupostos tão frágeis. Também não buscou  leituras mais aprofundadas existentes na sociologia da religião.


E o pior, o papel do magistrado nesta decisão foi além do pedido  jurídico. Havia uma petição do povo negro, via Associação Nacional  de Mídia Afro (ANMA) para que o Ministério Público Federal (MPF) fizesse  uma intervenção para a retirada de vídeos que ofendiam e faziam  ataques levianos sobre as religiões afro-brasileiras. O Google não  aceitou o pedido para tal retirada e o MPF então recorreu junto à  Justiça Federal, para que a mesma implementasse uma decisão  jurídica,visando a retirada do conteúdo que fere os postulados existentes no país, previstos na Constituição Federal.




O pedido exigia a aplicação da lei, da justiça na luta contra a  intolerância religiosa e o racismo. O que aconteceu foi o contrário, o  juiz Eugênio Araújo, negou o pedido da ANMA e fundamentou  afirmando que tais religiões afro-brasileiras não seriam religiões. Um  dos argumentos do juiz para desqualificar as referidas religiões foi a  inexistência de um livro “divino” a ser seguido. Tal argumento mostra que o espaço do juiz ao definir o que é ou não religião ultrapassou os  limites técnicos do fazer profissional. Pois, cabe à tantas ciências  sociais, como a Sociologia das Religiões e a Filosofia tais debates e análises. Debates estes, que definem claramente a validade e a vivacidade do candomblé e da umbanda como religiões.


Quando a Justiça se presta a um ato como estes, pratica-se um  retrocesso, não apenas jurídico mas social. Pratica-se um atentado  contra o povo (negro) que sofre opressão há séculos dentro deste Brasil. Pratica-se um ato de ignorância sobre tudo o que já se  produziu nas Academias deste mundo. Pratica-se a intolerância e a  falta de desejo de construir um país mais justo, mais democrático.


Sabendo de decisão jurídica, lembrei da figura ímpar e filha de Iansã  (um dos orixás cultuados no candomblé), a desembargora Luislinda  Valois. Chegaram a  minha mente nomes como a talentosa Maria  Bethânia (também filha de Iansã) e de Mãe Stella de Oxóssi ( que  recebeu o título de doutora honoris causa na Bahia). Todas elas são  mulheres de santo, mulheres que lutam cotidianamente contra tal  intolerância praticada e sentida.


Precisamos avançar e não retroceder. Que a justiça seja feita.